domingo, 6 de outubro de 2013

Palavra que se gasta.

"Escolha o leitor uma palavra qualquer, diga-a muitas vezes seguidas - pouco a pouco, irá perdendo sentido e densidade, até se transformar num articulado sonoro incoerente, que nada exprime já. Chegado a esse ponto critico nasce em si um movimento de pânico; precisa de recuperar a palavra destruída, amassá-la de novo no complexo das emoções que lhe restituirão a antiga e familiar fisionomia. É uma experiência simples que serve para mostrar a que extremos precisamos das palavras para continuarmos a ser."

In Deste Mundo e do Outro de José Saramago

Usamos determinadas palavras demasiadas vezes. Palavras que só por si tem uma carga forte demais para serem banalizadas no nosso quotidiano. Por exemplo: a Rita dizia muitas vezes "amo-te". A Rita já não o diz... Não agora. Sabe que as palavras se gastam. E começa a intender melhor essa história que há um tempo certo para tudo, até para as palavras.